A formação de unidades terminológicas
Os neologismos são criados pelo surgimento de um novo conceito atribuído a um termo já existente (processo chamado de mudança semântica ou neologia de sentido), ou ainda pela criação de novas combinações de elementos lexicais que já existem na língua para formar novas designações (processo chamado de neologia de forma). (DUBUC / KENNEDY 1997: 131-141). Nos dois casos, o processo deve respeitar regras precisas.
Regras de mudança semântica
Os neologismos semânticos ou de sentido resultam de um dos processos seguintes:
Extensão de sentido: acréscimo de um sentido moderno especializado a um termo genérico existente, por exemplo, o termo "máquina" ganha o sentido de "computador" em "texto a ser lido por máquina","interação homem-máquina" ou "interação máquina-máquina".
Metáfora: aplicação de um conceito novo a um termo em função de uma relação de similaridade com o conceito de origem, por exemplo, a palavra "alimentação" na língua comum e "alimentação bifásica" ou "alimentação de carga flutuante", na terminologia da engenharia elétrica, que são termos mais específicos a partir de um nome genérico.
Metonímia: emprego de um termo como designação de um outro em virtude de uma relação associativa de contigüidade entre os dois conceitos, por exemplo, "bombril" para designar "esponja de aço", etc.
Sinédoque: relação de inclusão em que um termo designa o todo pela parte, como designação de uma de suas partes ou vice-versa, por exemplo, "diamante" designa a pedra preciosa e a ferramenta do joalheiro que contém tal pedra; "transistor" designa o tríodo de cristal e o receptor de rádio portátil que o contém.
Eponímia: uso disseminado de um nome próprio em lugar de um nome comum. Em física, por exemplo, as unidades de medida são freqüentemente designadas pelo nome de seu inventor (ampère, coulomb, gauss, ohm, pascal, tesla, volt, etc.). Ás vezes, a eponímia se forma por derivação ou por composição, como em "bauxita", "baquelita", "ondas hertzianas", "energia eólica". O matemático Mandelbrot, inventor dos fractais, criou um fractal que se denomina "conjunto de Mandelbrot"; outros exemplos: "curvas de Peano", "carpetes de Sierpinski", "cobertura de Penrose", etc.
Conversão gramatical: passagem de um adjetivo a um substantivo ou vice-versa, por exemplo, "informática" (substantivo/adjetivo) e "rede tronco/tronco" ("tronco" é adjetivo/substantivo).
Regras de neologia de forma
Os neologismos de forma (KOCOUREK 1982: 86-124) resultam de novas combinações de elementos lexicais por:
Derivação: criação de termos novos por afixação. A derivação própria acrescenta prefixos ou sufixos (excluem-se as terminações gramaticais) aos termos ou a partes de termos existentes, por exemplo, crescer-acrescer-decrescer; ciclo-cíclico-ciclicidade; gás-gasoso-gasificar. A derivação imprópria exclui os afixos, por exemplo, encantar-encanto; registrar-registro. A derivação pode combinar-se com um epônimo, por exemplo, Pasteur-pasteurizar-pasteurização.
Composição por junção: há formas que se ligam a outras formas livres, por exemplo, linguagem - metalinguagem; vai - vaivém; couve - couve-flor; espaço - ciberespaço.
Composição por justaposição: formas livres que se juntam em sintagmas: relógio, relógio de pulso, relógio de bolso, relógio analógico, relógio biológico, relógio de quartzo, relógio de sol, etc.
Composição por aglutinação: soldagem de dois termos que se integram plenamente. Por exemplo, vinagre, de vinho acre.
Acrônimo e siglação: abreviação de letras ou sílabas dos componentes de unidades complexas, como OVNI de "Objeto Voador Não-Identificado", ou CPF de Cadastro de Pessoas Físicas.
Empréstimo externo: adoção de termos provenientes de línguas estrangeiras modernas, como, no português, CD-ROM, mouse, débâcle, etc., ou provenientes do grego e do latim.
A aceitação social dos neologismos no uso de uma comunidade de especialistas, e sua sobrevivência no vocabulário de uma especialidade depende, em primeiro lugar, de sua motivação: o termo novo deve refletir e evocar as características do conceito que ele designa. Os elementos lexicais devem sugerir o conteúdo do conceito. Por exemplo, em francês "bibliothèque de logiciels" é transparente, mas um pouco longo, enquanto que "logithèque" descreve bem o conteúdo do conceito assim designado, tornando-o reconhecido como membro da família "-teca" (biblioteca, cinemateca, infoteca, cyberteca, ludoteca, etc.) Outros fatores que contribuem para a sobrevivência dos termos novos são sua brevidade (reaça, de reacionário), sua maneabilidade ou facilidade de memorização ("corta-fogo" é mais compreensível do que "porta feita com material que não é inflamável") e a produtividade ou capacidade de produzir derivados e compostos (ver neologismos de forma acima).
A necessidade de criar novas designações pode ser de ordem estilística, quer dizer, criam-se designações menos agressivas ("deficiente intelectual" pode ser preferível a "idiota", e "portador de HIV" pode ser preferível a "aidético"). A necessidade pode ser de ordem social (por exemplo, a feminização de títulos) ou comercial (certos produtos se vendem melhor se seu nome é engraçado, lisonjeador ou atraente).
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
O QUE É NEOLOGISMO?
Postado por ALAN ORNELAS às 10:03
Marcadores: derivação, eponimia, extensão de sentido, metonimia, neologismo, sinedoque
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